Publicado por Maykon
Dia 12 de Janeiro de 2019
Em termos de geopolítica, a aproximação do Brasil com Israel no governo Jair Bolsonaro tem sido vista como um sinal de alinhamento com os Estados Unidos de Donald Trump. Em matéria de apoio interno, atende ao pleito de grupos evangélicos que se baseiam em intepretações bíblicas para defender que Jerusalém deve ser "protegida" e habitada pelos judeus.
Mas o que o Brasil pode ganhar ou perder com a intenção de Bolsonaro de seguir os passos de Trump e transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém? Na economia, que setores produtivos podem se prejudicar ou ganhar espaço? E o que muda para o Brasil como ator no cenário internacional?
A BBC News Brasil fez um raio-X do comércio exterior brasileiro com Israel e países de maioria muçulmana. Em termos econômicos, o peso das transações com países árabes é muito maior que o comércio com Israel.
Para determinados setores, como de produção de açúcar, carne de boi e de frango e milho, o comércio com nações islâmicas é crucial e há um temor de que a aproximação do Brasil com Israel gere retaliações do mundo árabe.
Por outro lado, Israel é um polo tecnológico e o Brasil poderia, potencialmente, se beneficiar com parcerias que incluam transferência de conhecimento científico. Irrigação para o setor agrícola, dessalinização de água em áreas de seca e segurança cibernética para uso no combate ao crime organizado estão na mira do governo brasileiro.
Mas a guinada diplomática na presidência de Bolsonaro não tem efeitos apenas na economia. Impacta, também, a forma como o Brasil é visto internacionalmente e, por consequência, as alianças políticas que conseguirá costurar em organismos internacionais, como na Organização Mundial do Comércio (OMC) e nas Nações Unidas (ONU). Atualmente, é com países árabes que o Brasil tem contado em votações internacionais importantes.
"Em todos os foros multilaterais, sempre que o Brasil precisa formar maioria, seja na OMC ou na ONU, ele negocia essa maioria com países da América Latina, que são 30 votos, com os da África, que são 50 votos e com os países do Oriente Médio, que são dezenas e dezenas de votos", explica o professor de Relações Exteriores da Fundação Getúlio Vargas Matias Spektor, que já foi pesquisador do Woodrow Wilson Centre, em Washington (EUA), e da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
"A forte aproximação com Israel tem impacto econômico, mas também um custo político-diplomático."
Qual o peso de Israel e de países árabes no comércio brasileiro?
Países árabes e o Irã respondem por quase 6% de todas as exportações brasileiras e cerca de 10% das exportações do setor agropecuário do Brasil. E a tendência, até pouco tempo, era de crescimento.
Em 2018, as trocas entre o Brasil e países de maioria islâmica somaram US$ 22,9 bilhões, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A balança é favorável ao Brasil em US$ 8,8 bilhões. Ou seja, exportamos mais do que importamos.
Mas é olhando para setores específicos, principalmente a agropecuária, que o peso das relações comerciais com nações muçulmanas fica mais claro: elas recebem cerca de 70% de todas as exportações brasileiras de açúcar (somados o refinado e o bruto), 46% do milho em grãos, 37% da carne de frango e 27% da carne de boi, conforme dados levantados pela BBC News Brasil junto ao MDIC.
Produtos
Fonte: Ministério da Indústria e Comércio ExteriorPaíses analisados: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Catar, Comores, Djibouti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Palestina, Síria (suspenso), Omã, Somália, Sudão, Tunísia e o Irã
"O Oriente Médio representava 5% das exportações do setor agropecuário brasileiro e hoje representa 10% das exportações. Ou seja, dobrou desde o ano 2000", ressalta Marcos Jank, presidente da Asia-Brasil Agro Alliance, entidade que reúne alguns dos maiores exportadores agropecuários brasileiros.
Já o comércio com Israel representa bem menos de 1% do comércio exterior brasileiro. E o Brasil compra mais do que vende. A balança comercial com Israel em 2018 fechou em déficit de US$ 847,8 milhões.
"O mercado árabe é muito mais importante economicamente para o Brasil. Do ponto de vista puramente econômico, estamos beneficiando um país que importa pouco em detrimento de um grupo de países que importa muito", disse à BBC News Brasil o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
O presidente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, Jayme Blay, discorda. Ele argumenta que, embora em termos de volume o comércio entre os dois países seja inferior ao dos países árabes, tecnologias importadas de Israel tiveram impacto importante em setores da agricultura.
Na visão de Blay, um incremento da parceria poderá aumentar e diversificar a produção brasileira.
"O Brasil não produzia melão comercialmente até a década de 60. Com uso de tecnologia israelense, passou a produzir a fruta no Vale do São Francisco. Hoje, é o segundo maior exportador de melão do mundo", exemplificou.
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